"O mundo e a terra são essencialmente diferentes um do outro e, ainda assim, nunca separados. O mundo se funda na terra, e a terra penetra no mundo. Como algo que se abre, o mundo não tolera nada que esteja fechado. Mas a terra, enquanto o que oculta, sempre tende a incluir e reter o mundo em si. O conflito entre o mundo e a terra é um combate."

Martin Heidegger, A origem da obra de arte


Neste projeto que recebe o título de "Território Ausente", a artista expressa a sensibilidade para produzir o efeito mais profundo da fotografia: o adensamento do tempo. Enquanto construções abandonadas evocam a presença humana de outrora, a natureza, através da ação de seus elementos e dos demais seres vivos, sobretudo das plantas, revela um presente de transformação do espaço. O mundo e a terra têm encontros insólitos, que desafiam a compreensão e estimulam a imaginação. Em cada foto, constrastam-se o vestígio de um agitado cotidiano e a placidez dos lentos e cíclicos processos geobiológicos. Mas ao adensar o tempo, ao misturar desolação e transformação, revelam-se também insuspeitos aspectos estéticos da matéria: as cores únicas de paredes velhas em choque com verdes vegetais, destroços de construções desorganizando geometrias, a água colonizando o antes impermeável, a luz do esquecimento em ambientes apagados. O projeto prop˜õe poemas visuais que liricamente sintetizam opostos: habitação e abandono, vivo e morto, velho e novo, humano e natural.


Vicente de A. Sampaio
Poeta e Mestre em Filosofia pela Unicamp 

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